Hip hop: arma contra o poder estabelecido
Data de publicação : 28 Agosto 2011 - 9:32am | Por Rafaël Thiébaut (Still do vídeo 'Fight the Power')Revoltas na Inglaterra. Distúrbios em Paris. A falta de perspectiva para muitos jovens vivendo nas periferias das grandes cidades europeias se manifesta às vezes de forma dolorosa. Uma das armas para enfrentar as autoridades é o hip hop. Quão poderosa pode ser a voz de uma pessoa? Este é o sétimo artigo da série da Radio Nederland sobre a canção de protesto no mundo.
Ouça ‘Riot’, com o grupo Reverend and the Makers: “O governo pedindo ‘confie em nós’, enquanto as pessoas gritam ‘don’t fuck with us’. Muitos homens terminarão disparando alguma coisa, porque uma necessidade é um dever quando os tempos são difíceis.”
O líder do Reverend and the Makers, Jon McClure divulgou uma declaração dizendo: “Assisti ao desenrolar dos acontecimentos no noticiário outro dia como todo mundo e fiquei chocado ao ver os prédios em chamas e pessoas perdendo seus negócios. Ver as notícias me fez lembrar de uma antiga música inacabada em que tínhamos trabalhado. Esta é a música. É de graça, não é uma coisa por dinheiro, de nenhuma forma, mas eu sinto que é meu papel como artista falar sobre isso e reagir ao que está acontecendo da minha própria maneira. Não vai ser um registro político, mas ficar calado quando há tumultos nas ruas não é pra mim. Espero que vocês gostem.”
McClure usa sua música para criticar tanto o governo como a sociedade: o hip hop é sua arma.
Importado dos EUA
O crítico de música holandês Alex van der Hulst diz: “Em primeiro lugar, o hip hop é usado para falar sobre a sua própria situação. ‘Seja real’ é o motto dos rappers.”
O crítico de música holandês Alex van der Hulst diz: “Em primeiro lugar, o hip hop é usado para falar sobre a sua própria situação. ‘Seja real’ é o motto dos rappers.”
O primeiro rap de protesto – ‘Fight the Power’ – abordando a situação nos guetos negros foi lançado no final dos anos 1980 pelo grupo de hip hop norte-americano Public Enemy, e logo este estilo de música ganhou também a Europa.
O rap de protesto também é extremamente popular entre a geração mais jovem na Holanda, onde a maioria dos rappers não mede suas palavras. O rapper Appa é um holandês de origem marroquina e deixa claro que passou muito tempo nas ruas. Ele insulta as autoridades em termos explícitos no rap ‘Ik heb schijt aan de overheid’ (‘Estou cagando para o governo’).
Juventude sob pressão
Apesar da imagem do rap, de ser uma música para jovens filhos de imigrantes nas grandes cidades, o rap também é o veículo de escolha dos jovens do interior. E embora alguns raps falem de emoções positivas, são as palavras negativas que chegam ao noticiário. Bennie Semil, cofundador da Rotterdam Hip Hop House, sabe de onde vem a raiva: “A sociedade está indo pro inferno e tem muita pressão sobre a juventude, especialmente jovens em bairros pobres das cidades. E eles culpam o governo por isso.”
Apesar da imagem do rap, de ser uma música para jovens filhos de imigrantes nas grandes cidades, o rap também é o veículo de escolha dos jovens do interior. E embora alguns raps falem de emoções positivas, são as palavras negativas que chegam ao noticiário. Bennie Semil, cofundador da Rotterdam Hip Hop House, sabe de onde vem a raiva: “A sociedade está indo pro inferno e tem muita pressão sobre a juventude, especialmente jovens em bairros pobres das cidades. E eles culpam o governo por isso.”
A juventude urbana na Grã-Bretanha e na França tem feito raps há mais tempo que a holandesa. Em ‘RMI’(nome dado ao seguro desemprego na França), MC Solaar, um rapper de origem africana fala sobre desemprego e desesperança entre os imigrantes e jovens da periferia das grandes cidades francesas. ‘Dans les bas-fonds on rêve des fonds du FMI, mais au fond on sait qu'les familles sont souvent proches du RMI.’ (No raso sonhamos com os fundos do FMI, mas no fundo sabemos que as famílias estão quase sempre perto do RMI).
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De acordo com o jornalista Alex van der Hulst, a maioria dos rappers na Espanha e Alemanha é de ‘nativos’, ou seja, não são filhos de imigrantes. “O rap de protesto alemão começou durante a antiga divisão do país. Um bom exemplo disso é ‘Absolute Beginner’. Já o hip hop espanhol é principalmente sobre os problemas enfrentados por grupos separatistas, os bascos e os catalães. Os rappers de Barcelona At Versatis criticam o capitalismo e a dominação cultural da maioria castelhana.”
Embora a cena de hip hop tenha chegado à Europa Oriental, lá não existem raps de protesto. O gênero ainda está engatinhando no leste europeu e continua muito americanizado, sendo remanescente do rap negro do final dos anos 1980 – as roupas, as jóias douradas e o estilo de dança são os mesmos, mas a cor da pele é diferente. Aqui um exemplo de 'gangsta rap' russo.
Indo longe demais
Ocasionalmente um rapper vai longe demais: Mo$heb ameaçou matar o político holandês Geert Wilders em vários de seus raps. Em 2009, o rapper holandês de origem marroquina foi preso e condenado a uma sentença de 80 horas de serviços à comunidade.
Ocasionalmente um rapper vai longe demais: Mo$heb ameaçou matar o político holandês Geert Wilders em vários de seus raps. Em 2009, o rapper holandês de origem marroquina foi preso e condenado a uma sentença de 80 horas de serviços à comunidade.
A eficiência do rap depende da maneira como a mensagem é transmitida. Em 2006, o governo holandês decidiu empregar a mesma arma e o então ministro da Justiça. Piet-Hein Donner, gravou um rap contra o uso de drogas. A música gerou críticas mistas. Bennie Semil comenta: “Uma boa iniciativa, mas considerada absolutamente ridícula pelas pessoas da cena do rap.”