(Sérgio Porto)
- No Brasil as coisas acontecem, mas depois, com um simples desmentido, deixaram de acontecer.
- Antes só do que muito acompanhado.
- Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo "eu sou coronel, eu sou coronel", o médico tirou o estetoscópio do ouvido e quis saber: "Fora esse, qual o outro mal do qual o senhor se queixa?"
- Ser imbecil é mais fácil.
- Está dando mais do que cará no brejo.
- Nos trens suburbanos não livram a cara nem de padre, que dirá mulher de minissaia.
- O mais perigoso é que já estão confundindo justa causa com calça justa.
- O Reino Unido não é tão unido assim como eles dizem, não.
- Desligou o telefone com uma violência de PM em serviço.
- Mais monótono do que itinerário de elevador.
- Macrobiótica é um regime alimentar para quem tem 77 anos e quer chegar aos 78.
- Consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói.
- Difícil dizer o que incomoda mais, se a inteligência ostensiva ou a burrice extravasante.
- Sempre ouviu dizer que o homem totalmente realizado é aquele que tem um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Tinha um filho, plantou uma árvore, o filho trepou na árvore, caiu e morreu. Só lhe restou escrever um livro sobre isso.
- Quem não tem quiabo não oferece caruru.
- Mania de grandeza é a desses suplementos literários que têm um aviso dizendo que é proibido vender separadamente.
- Pode-se dizer a maior besteira, mas se for dita em latim muitos concordarão.
- Homem que desmunheca e mulher que pisa duro não enganam nem no escuro.
- Todo homem previdente sorri sem falha no dente.
- Mulher expondo teoria sobre educação infantil é solteira na certa.
- Menino mijado, bode embarcado e chefe de Estado, nunca fica despreocupado.
- Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!
- Esperanto é a língua universal que não se fala em lugar nenhum.
- Pra quem gosta de jiló, coruja é colibri.
- Era desses caras que cruzam cabra com periscópio pra ver se conseguem um bode expiatório.
- O terceiro sexo já está quase em segundo.
- As coisas que mais contribuem para avacalhar a dignidade de um homem são, pela ordem, bofetão de mulher e tombo de bunda no chão.
- Caetano Veloso confunde velocidade com trepidação.
- Hoje em dia ninguém é bonzinho de graça.
- A polícia prendendo bicheiros? Assim não é possível. Respeitemos ao menos as instituições!
- O primeiro nome de Freud era Segismundo. Aliás, não só seu primeiro nome como também seu primeiro complexo.
- Às vezes é melhor deixar em fogo lento do que mexer na panela.
- Mais inútil do que um vice-presidente.
- Mais mole que bochecha de velha.
- A polícia anda dizendo que prende um bandido de meia em meia hora, então a gente fica desconfiado que eles assaltam de 15 em 15 minutos.
- Ninguém se conforma de já ter sido.
- Quem desdenha quer comprar, quem disfarça está escondendo, mas quem desdenha e disfarça, não sabe o que está querendo.
- Mulher enigmática, às vezes é pouca gramática.
- Quando um amigo morre, leva um pouco da gente.
- Nem todo rico tem carro, nem todo ronco é pigarro, nem toda tosse é catarro, nem toda mulher eu agarro.
- Quem diz que futebol não tem lógica ou não entende de futebol ou não sabe o que é lógica.
- A diferença entre o religioso e o carola é que o primeiro ama a Deus, o segundo, teme.
- Pediatra sempre capricha na pronúncia quando anuncia sua especialidade, pra evitar mal-entendidos.
- Nem todo gordo é bom, muitos se fingem de bonzinhos porque sabem que correm menos.
- Tinha tal pavor de avião que se sentia mal só de ver uma aeromoça.
- Mulher e livro, emprestou, volta estragado.
- O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.
- O importante é não deixar nunca que o menino morra completamente dentro da gente. Caso contrário, ficamos velhos mais depressa. Dizem que é por isso que os chineses, de incontestável sabedoria, conservam o hábito de soltar papagaio (ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. Não sei se é verdade, nunca fui chinês.
Stanislaw Ponte Preta, nosso querido Sérgio Porto (1923/1968), teve sua vida esmiuçada por Renato Sérgio no livro Dupla Exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta, editado pela Ediouro Publicações S.A. - Rio de Janeiro, 1998. Dali extraímos os frases acima (pág. 266 e seguintes), muitas das quais refletem o clima em que vivia o autor face à "revolução redentora de 1964", como ele costumava dizer.
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